quarta-feira, março 28, 2007

Brincadeira de línguas

"Chóra" (xώρα) em grego significa "país".

Dá para fazer vários trocadilhos militantes com isso.

domingo, março 18, 2007

Como outro

Às vezes eu me sinto fora de mim
Como se me enxergasse de longe
Ou até como não me enxergasse por todo
Sem ter o menor controle sobre meu corpo

Parece que eu acordo um pouco a cada dia
Ainda que às vezes volte ao transe
Pensando entender um pouco mais
Da imensidão do que eu nunca vou entender

Eu deixo a força tomar conta de mim
Sem responder pelos meus atos
E depois me acalmo, como se não tivesse vivido
Como quem acorda do coma

terça-feira, março 06, 2007

Rascunho sobre a saudade

Saudade embeleza
Até a dor de saudade embeleza
Tanto que, às vezes, é até mais bonito ter saudade do que viver

Saudade purifica
Os fragmentos que a memória guarda, ficam ainda melhores
São reentendidos e reassimilados e se percebe que muita coisa valeu

Saudade eterniza
E talvez nem seja melhor viver de novo
A lembrança fica tão bem, cada vez que é tocada, que não é certo mudar; só repensar

Saudade contextualiza
É como o veludo que forra a caixinha das lembranças
Pois tem saudade quem viveu para ter algo do que sentir falta

E tudo mais...

quinta-feira, março 01, 2007

Descarregando

Esta semana eu arrumei meu quarto. Lá se foram uma muda bem grande de roupas e um saco de lixo cheio por coisas inúteis. Acho que depois disso meu prédio não vai ter nunca como sofrer risco de desabamento por peso dentro dele. Meu vizinho de baixo agradece!

Foi meio difícil me desfazer das roupas. Sempre vem aquele pensamento "mas isso eu posso usar em casa", "isso eu posso usar quando emagrecer", "isso vai combinar quando eu comprar aquela saia que eu tanto quero", "ah! isso foi minha vó me que me deu. poxa!"... E por aí vai. Teve umas que eu tive que dar uma segunda chance. Mesmo que eu saiba que vou continuar não usando, meus hormônios femininos me impediram de doá-las tão facilmente. Quem sabe numa próxima arrumação.

Já as coisas inúteis se basearam em cadernos antigos, apostilas da escola, folhas, folhas, folhas e mais folhas. Dei muita coisa para a minha irmã, que ela possa precisar na escola. Dos cadernos, arranquei as folhas escritas dos que mal tinham sido usados para poder usar de novo e arranquei as folhas brancas dos que tinham sido muito usados para poder aproveitá-las. De resto, foi tudo! Só salvei os adesivos nunca utilizados, que vão continuar não sendo - hormônios femininos novamente. Adorei poder rasgar as folhas de química e os boletins, que antes eram muito valiosos!

O mais difícil foi ver os mil desenhos, pedaços de músicas, anotações bestas, conversinhas e recadinhos nos cadernos e ter que jogá-los fora. Algumas coisas eu guardei na minha famosa caixinha de lembranças, outras acabaram indo pro latão. Deu uma baita nostalgia! Isso serviu para esquecer aquelas provas terríveis que eu não sabia nada e tentava passar toda a noite anterior estudando, aqueles professores malas, aqueles alunos malas, aqueles trabalhos de grupo que nunca davam certo, aqueles aulas a tarde depois do almoço que davam muito sono, aquele medo do boletim, aquele ódio de acordar tão cedo, entre outras coisas, e só lembrar de o quanto também era legal ir para a escola. Tinham muitos momentos bons! Não apenas fora-estudo, muitas vezes até aulas maravilhosas que eu queria que durassem o dobro do tempo.

No meio da tralha toda achei um caderno de perguntas e o meu diário da quinta, sexta e comecinho da sétima série. Chamei uma amiga minha que eu conheço desde a época para ler comigo, até porque tinham várias citações sobre ela. Foi muito engraçado! Eu via as coisas de uma maneira tão diferente, pensava tão diferente... Pensava coisas como "Hoje o menino cutucou a minha orelha com a lapiseira. Acho que ele está afim de mim!". O tempo é muito irônico. O melhor de tudo é que eu detalhava bastante! Quase fizemos uma viagem de verdade no tempo e espaço. Algo estilo "Efeito borboleta", aquele papo todo sobre física quântica e "recordar é viver". Sem contar as gargalhadas infinitas e as mil lembranças que foram pipocando em nossas mentes.

Eu deveria fazer um diário novamente. A memória é uma coisa muito falha e seletiva. Sem contar que o ponto de vista altera muito na imagem guardada na memória, que às vezes nos impede de pode julgar as coisas de uma maneira mais sensata, como eu fiz ao reler meu diário de pré-adolescência. Há alguns meses eu até tentei fazer de novo, mas não tive a mesma paciência. Principalmente porque se trata de escrever a mão e ter que apagar com liquid-paper, dar aqueles riscos feios ou ter que puxar uma seta quando eu me esqueço de algo. Durou 1 mês, sendo que muitos dias não foram escritos. A minha mania de detalhar demais e querer pensar e explicar muito em cima das coisas deixava meu pulso realmente cansado. Já pensei em fazer no computador, mas não é a mesma coisa. Além de ficar mais exposto e fácil de ser perdido - se der um vírus na máquina, por exemplo - as letras à punho tem um toque mais pessoal, como um diário deve ser.

"Deixar registros é marcar a sua existência", disse a minha professora de História da Comunicação. Só pode se estudar uma existência se houver registros dela, senão é como nunca houvesse existido. Sócrates teria seu nome perdido, se não fosse pelos seus discípulos que registraram e mencionaras muitas de suas filosofias. Triste, não? Mas é assim.

Até.