Tinha medo do mar, mas foi para a orla para espairecer. Era muito estranho ser triste. Parecia uma novela mexicana, um filme de drama, uma cena clichê. Coisa tão própria e tão curiosa à alma. Podia ser ridículo, desesperançoso, submisso. Podia sim e é bem provável que o fosse. Cada um sabe das dores próprias. Era triste e ponto. Talvez nada pudesse mudar aquilo.
As pedras pontudas, onde a onda batia e voltava, dessa vez não se mostravam tão hostis. Na verdade, estavam bem convidativas. Quando se está triste, nenhuma dor se equipara a de dentro. Pensou em todas as pessoas que poderiam melhorar seu humor. Até ligou para algumas. De nada adiantou.
Não queria falar para elas do seu sofrimento: seria sacal, martirizante e um tanto egoísta. Ninguém quer ocupar seu tempo ouvindo amarguras alheias, a não ser que paguem. O mundo parecia não se importar com os segundos que separavam aquele corpo das pedras. Não faria tanta diferença assim, no final das contas.
Quem chorasse iria dizer intimamente, bem baixinho, para nem Deus (muito menos ele!) ouvir "O Senhor que me perdoe, mas é até um alívio". Assassinos do dia-a-dia. Todos!