segunda-feira, abril 07, 2008

O pedido exigido

Outro dia eu estava atravessando a praça da Leopoldina para me jogar no meio dos carros, para poder chegar no ponto e para, finalmente, pegar o segundo ônibus em direção à minha casa. Foi quando eu - praticamente sozinha, porém em pleno meio dia - fui abordada por um garoto de mais ou menos 7 anos.

Ele me viu de longe e veio com pressa pra cima de mim. Esticou a mão, fez cara de mau e fiou repetindo "Me dá um real. Me dá um real.". Eu não tinha um real para dar. Meu dinheiro contadinho eram exatos 2,50, sendo 2,10 só para a passagem de ônibus.

Fiquei nervosa, eu nunca fui assaltada, e disse a verdade "Desculpa, eu não tenho um real. Toma, 40 centavos.". Ele se zangou e respondeu "Não! Eu quero um real!". Eu repeti "Não tenho um real. Só tenho isso e meu dinheiro certo pra pegar o ônibus. Desculpa", "Eu quero um real!", "Já disse que não tenho." Ele, que em momento algum me olhou nos olhos, virou a cara e resmungou alguma coisa. Eu não perdi tempo e já fui logo apertando o passo para fugir daquela praça.

Atravessei a rua com tanta euforia, que quase fui pega por um dos carros e acabei indo pro lugar mais difícil de atravessar para o ponto. O tempo inteiro olhando pra trás.

Sim, você pode achar que eu não fui realmente assaltada. Ele não me mostrou nenhuma arma e só pediu um real. Podia ter pedido meu celular, minha mochila, meu tênis, a passagem de ônibus. Mas um garotinho de 7 anos, bem mais baixo do que eu, já tinha olhos com maldade e soube acuar direitinho, exigindo a quantia certa que ele queria, me deixando quase sem saída. Só desistiu porque viu que eu realmente não tinha.

Pedinte não é assim. Você dá o dinheiro se quiser e se tiver. No caso dele, foi exigido. E não se satisfez com menos. Eu, que não apoio dar esmola porque acho que fomenta esse tipo de marginalidade, só tive a opção de dar à ele o que eu tinha no bolso. Se não o é, é algo bem próximo de assalto.

Se ele tivesse realmente uma arma ou fosse um pouco maior, não duvido nada que teria me arrancado a mochila e conferido se eu realmente não tinha esse um real. Ou ia pegar qualquer coisa de valor para revender. O pior é que é esse mesmo o futuro dessa criança.

Veja só: eu, uma garota de classe média, me virando para sair da faculdade, conseguir almoçar em casa para gastar menos dinheiro e, enfim, poder ir trabalhar. Ele, um menino ainda, apenas sentado numa praça acuando as pessoas e exigindo a quantia que ele bem entender. Sabe-se lá o que ele faz com o dinheiro. Só se alimenta? Só compra roupa? Só dá para os pais? Sei não.

Eu não acredito muito nessa história de "falta de oportunidade". Se ele tivesse vendendo bala no sinal, eu não teria problema nenhum em comprar. Já até só dei o dinheiro para um menino desses sem ao menos comprar a bala dele.

A não ser que seja muito idoso ou porte alguma deficiênia - que são pessoas realmente incapacitadas -, eu não tenho a menor piedade de pedintes. Muito menos de quem rouba. O governo não ajuda? Pois não conte com o governo. O governo e o mundo são feitos de pessoas. Se cada uma não se virar por si, não adianda nada uma se virar por todas.