quarta-feira, dezembro 26, 2007

Quebra Coco

O canto do pássaro é tão bonito. As gaivotas dançando no céu, o fim de tarde que se mescla em rosa e azul, o sol que reflete no verde das folhas das árvores, o grito de crianças na rua, o cheiro de vida que entra pela janela...

Eu me sinto muito culpada por não apreciar direito o lugar onde moro. Por me ocupar tanto com coisas desimportantes e não me dar aquele tempinho quieto e silencioso de apreciação. Ando pensando em mudar.

Luz forte

Nas cartas, nos abraços, nas declarações e nos sorrisos que eu nunca vou receber, tem muito sonho. Imaginário de um olho aberto e o outro fechado. Eu sou assim mesmo: romântica e cautelosa. Mas quando me permito fechar o outro olho, me jogando no doce escuro, acendem uma luz forte na minha cara e sou obrigada a abrir. Luz forte ilumina, mas dói. É o que acontece. Isso eu prefiro não colecionar. Não mesmo.

Se repete...

Fez do corpo do outro um travesseiro, no qual repousou e se sentiu bem só por abraçar. Uma concha protetora que já teve cheiro de sabão, de groselha e até de cera de ouvido. Tudo se repetiu, como sempre se repete, naquela sintonia embalada por música-faz-beijar. Numa dança conjunta de corpos, que parece ensaiada de tão coerente.

Na fala torta do outro e de si, se repetindo, ouviu mais uma vez o que um dia quis ouvir, mas que agora dá outro valor. A reação foi repetida, o olhar foi o mesmo, o pensamento lá longe... O porto seguro que se sempre imagina nas mãos de quem está ao lado, errado. E tudo se findou, de novo, num beijo de boa noite.

terça-feira, dezembro 25, 2007

Sem título

Não posso esquecer de me lembrar
De menos reclamar e mais fazer
Pois se o vento não vem na direção,
Com o meu coração na mão,
Não vou deixar acontecer
Mas sim, tentar mudar.


*21 de Janeiro de 2005, mas ainda atual e nem sempre cumprido.

domingo, dezembro 23, 2007

Joyce e Gabriel

Veja só como a vida é! Acabei de escrever sobre pequenas coisas que viram felicidade e recebo uma ótima surpresa! Dois amigos meus vão se casar em Fevereiro!

Só por isso já seria uma notícia que merece ser festejada, até porque quem vos fala é uma encantada por romances, mas ainda tem mais! Os dois são pessoas maravilhosas, de coração enorme e sempre com um sorriso acolhedor estampado no rosto e uma idéia interessante na cabeça. Formam um casal lindo: um dos mais lindos, apaixonados e companheiros, que não deixam nunca o respeito de lado, que eu já vi.

A Joyce é a minha amiga de infância. A melhor amiga que eu tive na época. Nós chegamos a ponto tal de sintonia e amizade que tínhamos um amigo imaginário em comum, com o qual inventávamos a brincadeiras mais divertidas e criativas.

O Gabriel é meu amigo de colégio. Que teve que repetir uma série para me conhecer. Sempre conversávamos durante as aulas e os intervalos. Discutíamos sobre todos os assuntos, principalmente religião. Lembro até hoje dele, evangélico, jogando a bíblia no chão e dizendo que aquilo era apena um livro com um monte de palavras escritas e que não deveria ser tocado com tanta luva-de-seda.

Hoje os dois, que moravam aqui pertinho, moram longe (mas ainda Rio de Janeiro) e apenas vez ou outra, quase nunca, que nos vemos. O que é uma grande pena! Mas a vida é a sim mesmo. Tanta gente especial por aí e quase não dedicamos nosso tempo à elas, por não termos esse tempo, por preguiça, por memória fraca, por falta de jeito, por comodismo... Não dedicamos. E acabamos deixando passar muita oportunidade boa, como a de estreitar laços com quem se gosta, merece e acrescenta. Vida besta.

Porém, foi justamente por eles terem ido morar longe - primeiro ela, depois ele - que ambos se conheceram. Quando ele me falou que iria se mudar, eu, que tenho mania de apresentar todos a todos, quis apresentar os dois. Com essa idéia, passei o ICQ da Joyce para o Gabriel "Já que vão morar perto, vocês podem ser amigos!". E ele foi lá e adicionou.

Foi essa minha idéia despretenciosa e aparentemente pequena que permitiu o nascimento do amor deles. O achado da tal alma-gêmia para ambos. Agora, depois de tanto serem amigos, tanto namorarem, tanto conviverem e fazerem planos juntos, resolveram se casar. Eu, aqui, me debulho em sorrisos, borboletas no estômago e pulinhos tanta, tanta alegria que senti ao saber disso. Orgulho de ver meus dois amigos, tão queridos, unindo de vez suas vidas por todas as coisas que um amor bem resolvido traz. Em saber que passarão todos os dias juntos e construirão uma família linda.

Olha, eu nem consigo expressar direito o quão feliz estou e quão satisfeita de ter sido aquela que teve uma atitude pequena que resultou em tanto. É realmente bom demais! Claro que se eles não fossem quem são, não adiantaria de nada.

Quem diria... Ninguém diria! E se alguém dissesse, não sairia tão bem feito.
Felicidades maiores, muitas, ao casal que eu amo! =)

sábado, dezembro 22, 2007

Pontinha

Algumas pessoas bem bonitas me disseram mais de uma vez que é bom ser feliz com pouco. Esse pouco, de pouco em pouco, vai mostrando que é mais valioso que o muito. Isso é dito toda hora por quem nem é tão bonito assim e por isso muitas vezes não faz sentido. Fica só na utopia.

Hoje quando eu tinha massa atrás das unhas e farinha nas pernas, ao lado da minha irmã - que sempre esbanja luz - eu pude ver, de novo, como é ser feliz com pouco. E não foram usadas tantas vírgulas e pausas como agora, foi natural, pleno, aconchedor e despretensioso. Foi como se deve ser.

Minha mãe falava das crises, meu pai dos problemas que vinham no jornal, mas eu afundava meus dedos no açúcar ralinho e me sentia feliz, alienada ao resto. Bem feliz. Não queria saber do mundo, das tristezas, das injúrias e todo esse muito de tudo e sempre. Só pensava na felicidade que vinha naquela onda retilínea e silenciosa de prazer.

Garanto que essa pontinha de alegria espontânea é muito melhor do que qualquer ponta de agulha de acupuntura. Melhor do que muito tratamento pretencioso e forçações de barra de existem por aí. Isso é aquela alegria que vem sem querer, estufa o peito e sai deixando leveza. Original.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Cheiro de vó

O abraço de saudade com cheiro de infância. Cheiro de piscina, de barro, de almofada de crochê, de feijão mulatinho. Era no ritmo de samba que tocava alto no rádio que eu saia feliz pela casa fingindo ser gente grande. Fazendo dos objetos mais simples uma grande aventura e pensando que mosca-varejeira era meu gnomo pessoal.

Hoje o abraço tem o mesmo cheiro, a boca tem o mesmo batom vermelho e os cabelos o mesmo tom e corte. Os defeitos e qualidades já são conhecidos: quem muda sou eu, não ela. Eu ainda sou a rainha e minha irmã, a seria. O amor sempre está ali também sem mudar, ainda que não se veja sempre.

E depois do riso, das histórias e do aconchego, com os olhos cheios de lágrimas ela abana para nós no meio da rua. A despedida que corta o coração e quase me faz ter raiva de mim.

domingo, dezembro 09, 2007

Vidro do carro

Entre o dorme e acorda no banco de trás do carro, eu vejo a estrada passar. O sol e as nuvens brincam no horizonte, fazendo-se em cores, tons e formas: amarelo ao rosa, azul ao preto. O cheiro é de ar puro misturado ao de diesel de caminhão. As vacas e os cavalos no pasto, os cupinzeiros, os insetos que batem no vidro, todos moradores. Os eucaliptos, os ipês amarelos, os alpistes, os milhos plantados, todos enfeites.

Os meus olhos correm pela a cantoria do verde e dessa fauna e flora que a estrada corta. De noite, não muito se vê, mas se vê estrelas que ali se mostram como não se mostram na cidade. Sem vergonha de aparecer, iluminam o céu em tantos tamanhos e tão fortes que fica quase tudo branco, como se dia fosse.

Eu me calo e me sinto um pouco lânguida. Encosto a cabeça no vidro e fico imaginando como é morar ali, naquelas casas de poucos tijolos. Como é ter essa tranqüilidade toda com o nada, quase nada, de variedade do que se fazer e, ainda assim, não conceber a vida de outra forma.

terça-feira, dezembro 04, 2007

As irmãs

Eram irmãs gêmeas. Saídas da mesma barriga, feitas do mesmo líquido, com o mesmo posicionamento dos astros, do mesmo verde nos olhos. Uma se chamava Lícia e a outra Alicia.

Lícia, quando criança, gostava de brincar de todos os jogos e com todos os brinquedos possíveis. Alicia preferia ficar perto da mãe e descobrir o que os adultos fazem. Lícia cresceu e arrumou vários namorados, chegou bêbada em casa diversas vezes e todo ano ficava em recuperação em matemática. Alicia era austera, dedicada, não gostava das diversões noturnas e sempre foi reconhecida no colégio.

Lícia com dezoito anos se apaixonou profundamente. Alicia arrumou um emprego. Lícia começou a fazer artes plásticas por satisfação, mesmo sabendo que não era um meio que dava muito dinheiro. Alica reprovava a irmã e começou o curso de direito, mesmo sabendo que não era o que mais lhe agradava. Lícia trancou a faculdade por um período, sem muitos planejamentos, e mergulhou na aventura de conhecer o mundo. Alicia perdeu a virgindade com quase vinte e três anos.

Lícia formou-se, casou-se por amor fulminante e abriu um ateliê que não dava tanto dinheiro, mas mesmo assim teve quatro filhos e os criou com todo conforto de amor do mundo. Alicia formou-se, casou-se mais por convenção do que por sentimento, firmou uma carreira bem sucedida e sólida e de tanto que não quis ter filhos antes de conseguir ascender na vida, ficou tarde de mais e seu corpo não mais fertilizou.

Alicia não optou pelas delícias da vida, preferindo acumular e subir, enchendo, e por assim pesando, cada vez mais o saco da vida nas suas costas ao ponto que às vezes era quase insuportável carregá-lo. Lícia foi feliz.