Bege
Tinha as unhas bem feitinhas, mas as vinha lixando dentro do ônibus, pois as queria perfeitas. Mas mal sabia que essa busca por perfeição só as encurtava mais e mais.
Saiu de casa esperando ver coisas bonitas, mas naquele ônibus ela só veia coisas feias: unhas feias, braços feios, rostos feios, roupas feias. Não estava bem e até se sentia muito notada por ser a única com as unhas bonitas. Na janela daquele ônibus lento, que mais tremia do que andava, recostava a sua cabeça e olhava os tijolinhos que formam as casas, os emaranhados de fios, a poeira do chão que levantava. O dia não estava saindo como o esperado.
De súbito, na parada de um ponto, viu uma senhora, bem senhora, com flores de crochê no cabelo e um vestido verde esmeralda, com ombreiras e laçarotes. Era tão inusitado e tão original, que se sentiu feliz e riu de canto de boca. Procurou ver as unhas dela enquanto o ônibus fugia e notou que eram igualmente feias às das outras pessoas, mas não importava, porque ela tinha ar de pedra preciosa.
Em outro ponto de ônibus, entre balas, salgados e amendoins, viu um senhor com uma engenhoca interessante, que se tratava de uma carteira na qual escondia o celular dentro. Era engraçado vê-lo falando com a outra aba da carteira por cima de sua cabeça. Só não era muito prática, porque expunha o dinheiro.
Era tanta coisa inesperada, que o sorriso se fez inteiro na boca. Em cheio. Isso a fez feliz. Tão feliz que soube apreciar o dia de chuva fina, sol forte e cheiro de terra molhada, como são as chuvas nos sonhos mais calmos.
Ela - que na verdade sou eu não querendo me dizer - chegou em casa com o colorido da alegria. Colorido que se passa desapercebido entre tremidas de ônibus. Quis fugir do mundo sem graça de unhas bem feitas e beges e pintou-as de amarelo. Forte. Quatro camadas.
Saiu de casa esperando ver coisas bonitas, mas naquele ônibus ela só veia coisas feias: unhas feias, braços feios, rostos feios, roupas feias. Não estava bem e até se sentia muito notada por ser a única com as unhas bonitas. Na janela daquele ônibus lento, que mais tremia do que andava, recostava a sua cabeça e olhava os tijolinhos que formam as casas, os emaranhados de fios, a poeira do chão que levantava. O dia não estava saindo como o esperado.
De súbito, na parada de um ponto, viu uma senhora, bem senhora, com flores de crochê no cabelo e um vestido verde esmeralda, com ombreiras e laçarotes. Era tão inusitado e tão original, que se sentiu feliz e riu de canto de boca. Procurou ver as unhas dela enquanto o ônibus fugia e notou que eram igualmente feias às das outras pessoas, mas não importava, porque ela tinha ar de pedra preciosa.
Em outro ponto de ônibus, entre balas, salgados e amendoins, viu um senhor com uma engenhoca interessante, que se tratava de uma carteira na qual escondia o celular dentro. Era engraçado vê-lo falando com a outra aba da carteira por cima de sua cabeça. Só não era muito prática, porque expunha o dinheiro.
Era tanta coisa inesperada, que o sorriso se fez inteiro na boca. Em cheio. Isso a fez feliz. Tão feliz que soube apreciar o dia de chuva fina, sol forte e cheiro de terra molhada, como são as chuvas nos sonhos mais calmos.
Ela - que na verdade sou eu não querendo me dizer - chegou em casa com o colorido da alegria. Colorido que se passa desapercebido entre tremidas de ônibus. Quis fugir do mundo sem graça de unhas bem feitas e beges e pintou-as de amarelo. Forte. Quatro camadas.