quinta-feira, abril 13, 2006

Ensaios de Lóri

Sentiu, de súbito, vontade de viver. Mas como viver mais do que já vivia? Ele amava tudo que tinha, tudo o que fazia, ainda que sentisse vontade de chorar sempre que pensava no quanto continuava se privando.

As luzes dos postes iluminavam a janela do táxi. Observar o repetitivo espaço, exato, entre elas era quase um transe. Poderia ter deixado para mais tarde a passagem de si para outros? Poderia ter tentando agarrar o mundo antes de se agarrar? Teve medo do que poderia ser sozinho; da sua capacidade de ser mais. Ou de ser menos?

A indiferença era tampada com falsa felicidade, falso amor. A indiferença era a angústia disfarçada. Ele não gostava de se angustiar e queria abraçar, acumular, tudo o que parecia ser bom, e não largava fácil. Sem ao menos pesar qual era o bem que realmente faria bem. Podia cair num poço misterioso ou podia segurar em alguma coisa que o suspendesse.

Tinha medo de compreender. Querer saber de tudo e se defender de tudo era a fuga da condição humana. Compreender é sempre um erro, pois é capcioso. Preferia a falsa felicidade e o falso amor, assim disfarçaria a dor de ser.

E por que ser deveria ser uma dor? Hoje ele prometeu, mesmo sabendo que não cumpriria, apenas fazer o lhe serviria para a ida ao porto de chegada. Iria pensar bem no que realmente o faria bem e se focaria apenas nisso, deixando de lado os outros penduricalhos.

Se esforçaria para ser coerente, para não procurar salvação onde não existiria e para não mentir, principalmente, a si mesmo. A partir de hoje ele poderia ser amado por ser o que ele é, e poderia amar de volta. Sem acusações, dúvidas, julgamentos... Em paz. Sentia que, embora muitos anos passados, ainda tinha muita vida pela frente.

Ele gostava do silêncio. O silêncio não o traia. O silêncio o levava a condição de pré-morte, de onde poderia ressuscitar. O silêncio o largava sozinho e o fazia sentir o doce da solidão, que era muito amarga. Ele se desarmava e quase conseguia enxergar por completo a realidade não programada. Naquele momento parecia fácil fugir dela. Ali, ele vivia e nunca expressaria isso em palavras. Apenas naquele momento.

"Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao paraíso, morrer é que é o paraíso."

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pegou pesado srta Roberta...

Fodaralhásso seu texto...

Queixo caído... :o))

Parabéns, ainda bem que vc não fez publicidade...

Beijocas enormes

13 abril, 2006 15:07  
Anonymous Anônimo said...

Pegou pesado srta Roberta...

Fodaralhásso seu texto...

Queixo caído... :o))

Parabéns, ainda bem que vc não fez publicidade...

Beijocas enormes

13 abril, 2006 15:07  
Anonymous Anônimo said...

Não há o que ensinar.

Viu como você escreve maravilhosamente?

És uma artista completa.

13 abril, 2006 17:23  

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