terça-feira, outubro 31, 2006

Deixa o homem trabalhar

Pela primeira vez na história política brasileira o presidente que a imprensa apoiou não foi o vencedor. Alckmin - o Geraldo, como ele preferiu ser chamado nessas eleições - foi apoiado, de maneira nem sempre discreta, pelas mídias.

Na realidade, foi um posicionamento mais anti-Lula do que pró-Alckim. Lembro-me que desde o começo do ano a revista Veja, declaradamente opositora ao Lula, já vinha publicando edições com o rosto esquisito do principal concorrente na capa.

Ainda assim, Lula somou mais 5,5 milhões de votos em relação ao total de 2002, graças ao crescimento do total de eleitores do Brasil nos últimos quatro anos. Os escândalos, as pressões, as críticas e as oposições não foram eficientes. Ao menos conseguiram um segundo turno, o que é muito importante para a democracia crua que temos.

Segundo o JC On Line, "a involução da campanha de Alckmin no segundo turno foi mais decisiva do que o crescimento de Lula". Completa com "Os números do segundo turno da eleição deste ano mostram também que a política de alianças e a agenda de campanha de Alckmin acabaram não tendo nenhum efeito positivo. Depois de se desgastar muito politicamente ao acertar um acordo com o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB), Alckmin aumentou sua rejeição no Estado."

Irônico, não? O candidato a governador no Rio que fez aliança com o Garotinho, Sergio Cabral, venceu. A publicidade ridícula em cima dele realmente colou. Infelizmente para os eleitores que, como eu, votaram na Denise Frossard na esperança de que alguma coisa melhorasse. Mas ela não sabe criar bons discursos...

Aliás, eu sou mais anti-Cabral do que pró-Frossard. Não é assim que os eleitores se posicionam hoje em dia? São estimulados a "não trocar o certo pelo duvidoso" ou a "trocar o errado pelo certo". Apenas trocas, não escolhas confiantes.

A ironia deve ter se dado pela bobeira do Alckmin ter usado as "personas" do famigerado casal Garotinho como estratégia, ao invés de usar apenas a política populista deles de "um real", como o Serginnho fez. Minha professora de Teorias da Comunicação analisa campanhas políticas e afirmou que quando o governo do casal é enunciado, quase não há rejeição, porém quando suas figuras são utilizadas, a rejeição é gritante. Que coisa, não?

De qualquer forma, um fato inédito aconteceu. Será que os eleitores estão criando mais opinião própria e deixando-se levar menos pela de terceiros? Será que estão desacreditados na imprensa? Ou será que estão extremamente vulneráveis à campanha publicitária? Caso a ser bem estudado.