domingo, junho 04, 2006

Epifania

Muitas vezes eu me pego resumindo a minha vida: a infância foi assim, a pré-adolescência foi assado, depois teve isso, depois aquilo outro e agora é tal. Que babaquice inútil e superficial!

Outro dia eu passei em frente aonde meu pai trabalhava. Costumava a lembrar de apenas duas ou três cenas do lugar, mas quando vi o hall de entrada novamente, minha cabeça inchou de lembranças. Vários detalhes haviam sido esquecidos, como são todos os dias. A lembrança é sempre manipulada. Não existe lembrança pura! Sempre cortamos, adicionamos, esquecemos; um lembra o que o outro não lembra.

Esse flashback pode acontecer até mesmo em uma conversa, uma carta, um objeto... Qualquer coisa que remeta a algum outro momento. Mas isso todo mundo sabe. Estou me sentindo como se estivesse escrevendo aquilo que se quer ler - o que às vezes é muito útil para mim. Ler o que se quer ler fixa o pensamento na cabeça. Sempre precisamos de um apoio teórico.

O que eu quero falar mesmo é de como a vida não chega nem perto de ser linear. Uma viagem, um livro, um filme, uma aula, um papo, um saída, uma música, um abrir de gaveta... Nossa! Tanto! Tudo isso pode mudar muito o que pensamos que somos. Sempre pensamos e sonhamos que somos, mas nem sempre somos.

A epifania não tem hora para acontecer. Eu tenho verdadeira admiração por isso! Tudo parece tão diferente de um segundo para o outro. Portas se abrem; se fecham. "É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê", não resisti em citar Marcelo Camelo. Bobeira minha. Mas foi o que eu lembrei e o que melhor encaixou.

Agora, por exemplo, eu estou sob influência do último livro que li e das últimas saídas que tive e estou seguindo uma linha de pensamento e escrita diferente. Depois muda de novo. Engraçado, não? Eu acho. Precisamos de apoio para todos os atos, na verdade. Por isso muita gente copia.

Eu acabo de mudar um pouquinho porque li o que queria ler, vi o que já tinha visto e fiz o que já tinha feito. Quanta coisa não é enxergada, desperdiçada, esquecida... Por isso que a epifania acontece: o escondido se aflora!