sexta-feira, agosto 11, 2006

Ciclo de renovação constante

Bebida em uma mão, cigarro na outra. Ali estava ele com sua armadura de sempre. Para o ataque! Em volta, pessoas se dançando, simulando com as mãos tocar guitarra, conversando, paquerando... Era mais um típica noite de caça, onde toda a tensão sexual se aflora.

Esperava ao menos alguma troca de beijos com qualquer mulher bonita, ou no mínimo muito simpática, que aparecesse. Pelo menos uma, senão voltaria com um gosto amargo para casa, questionando porque não conseguiu nada. "Será que eu estou feio? Será que a garota realmente tinha namorado ou ela só falou para ser gentil no fora? Será que eu falei alguma coisa pra que não devia?". Hoje ele não poderia carregar essas dúvidas. Seu ego estava com sede de confiança efêmera e seu corpo gritava para explorar novos corpos, como se fossem novos enlatados na prateleira do supermercado.

Costumava a dizer que existem dois tipos de situação: o tiro no escuro e uma luz no fim do túnel. A primeira é quando não se faz idéia do que a garota acha de você, ou seja, nenhuma indicação foi dada antes do momento da iniciativa. Nesta, o sentimento é bem intenso. Sem muita segurança, porém muito medo. Contudo, se não der, não deu.

A segunda é quando já se recebeu alguma indicação de que a garota está disponível pra você ou muito interessada no corte da carne. Olhares, sorrisos de canto, movimentos no cabelo... Tudo influencia. O sentimento é mais munido de confiança, mas, ainda assim, rola o medo de se estragar tudo.

Caixinha de surpresas; Potinho de emoções; Consolo expresso; Massagem no ego. Chamem como quiser! Ele adorava aquele clima. Tinha várias e não tinha nenhuma. Beijava muitas bocas, conhecia sempre mulheres novas, emoções recém saídas do forno, adrenalina do flerte. Um ciclo de renovação constante de simulação de falsa intimidade. Se conhecesse alguém interessante, ao menos notaria. O gostoso para ele era não se apegar de verdade a ninguém e poder experimentar ao máximo. Apegos longos atrapalhariam tudo.

Tinha quase um manual para isso! Atos calculados, medidos, cuidadosamente aplicados. Era só abrir a pasta e escolher qual aproach usaria. Usava trejeitos forçados, frases prontas, movimentos contados, olhares de interesse, risadas falsas... Até poderia mentir - o que, na verdade, acontecia muitas vezes, principalmente dele para ele mesmo. Porém tudo muito rápido! Porque a noite é uma criança, mas dura pouco tempo.

Às vezes achava que tudo era muito vazio, mas não gastava muito tempo pensando nisso. Achava que o bom mesmo era "usar" a pessoa que não conhecia para ir preenchendo esse vazio. Beijando, ele quebra um monte de barreiras que ela constrói nos relacionamentos interpessoais e, no final das contas, ele a conhece muito mais rápido do que se ela fosse uma mulher que ele investisse aos poucos, gastando muitas noites com isso. Gostava da atração rápida e descartável e de suas cartas marcadas.

Querer mesmo ter alguém era uma possibilidade remota e só para o futuro. Apenas poderia vir a acontecer dias, semanas, meses, anos depois do "teste do beijo". No fundo, tinha até muito medo se envolver. Sua confiança era líquida e seus hormônios falavam mais alto.

Porém, hoje ele iria a caça e isso era o que importava. Já estava analisando seu terreno de investidas. "Se é mulher e deu chance, já era".